terça-feira, 10 de novembro de 2015

INDOMÁVEL



Minhas olheiras tem o meu tamanho.
Olho pra elas e são grandes
E parecem ser para sempre.
Tento domá-las,
Como quem tenta
Domar um leão
Sem ter tido treinamento
Para essa função.
Tento aceita-las e
Parece-me de bom tom
Que eu as aceite.
Mas elas têm o meu tamanho,
O tamanho que eu mesma
Dei a elas
E agora não sei
Como voltar atrás.
Não sei mais como ser
Sem as olheiras
E a importância que agora
Elas possuem em minha vida.
São “olheiras de estimação”.
E como as coisas e pessoas
Que nos são de muita estima
Não consigo deixa-las ir,
Não consigo seguir sem elas,
Logo eu, que sempre as escondia.
Pois agora não há
Esconderijo algum:
Minhas marcas estão
Estampadas na face
Como se eu tivesse
Feito uma tatuagem
Com as marcas da minha alma.
Agora, com a alma
Todo o tempo exposta nos olhos
Pros olhos de quem quiser ver,
Tenho que seguir em frente.
Mas cadê que consigo?
A cada passo que insisto em dar
Tento colocar minha olheira
Em seu devido lugar
Mas ela não me obedece,
Ela é teimosa como eu,
Insiste em ficar
E em ocupar seu lugar
De direito e de grandeza
De quase realeza.
Mas eu continuo tentando,
Quem sabe,
Vencer pelo cansaço.
A vontade que dá
É de esfregar com esponja
Ou palha de aço
Pra apagar do olhos
Esses escuros da alma.
Se o escuro é da alma,
Que fique por lá!
Por que essa minha alma
É tão exibida que precisa
Extrapolar meus olhos
Para se mostrar?
E de pensar
No quanto é louco
Eu me violentar assim
Para apagar de mim
Quem sou
Me assusta e me paralisa.
E eu me agarro ao escuro,
E procuro me encontrar
Ali mesmo, enquanto
Minha noite de dentro,
Minhas olheiras,
Não amanhecem.

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