quarta-feira, 18 de novembro de 2015

APRISIONADA


Depois que vesti as asas
Não consigo mais tirá-las.
Parece que elas
Fazem parte de mim,
Do que sou agora,
E não consigo me libertar delas.
Entendeu a loucura?
Como se cura
Uma pessoa que tem asas
E, por isso, perde a liberdade?
Que asas são essas
Que prendem ao invés de libertar?
Será que minhas asas
Vieram com defeito
Ou sou eu que enfeito
A dor de não saber voar?
Em algum lugar se ensina o voo?
Ou é um dom, uma arte
E que não souber voar
Que se mate?
Asas que não levam
A lugar nenhum
São fardos,
São correntes,
E pesam.
E doem as costas.
E não tem como disfarçar:
Um par de asas
E a gente
Gastando sola de sapato
Porque tem medo,
Porque não quer encarar o risco.
A gente sobe e desce
A escada, a pé,
Escolhe um degrau
E senta
Pra esperar
A coragem chegar
Pra se lançar lá de cima
E ver se,
Com um grande susto,
As asas, finalmente,
Funcionam.

Por enquanto,
Ainda estão com defeito.
E eu? Continuo aqui,
Sentada na escada.

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