domingo, 30 de abril de 2017

SILÊNCIO QUERENDO DIZER

Esse silêncio querendo dizer...
Escrevi e fiquei com isso:
Um silêncio querendo dizer,
Que me tira o sono, a paz...
Difícil engolir
O que ele tá dizendo...
Se é que tô entendendo...
Às vezes não o sei ouvir.

Por ser quase sempre palavra
Acho estranho
quando o mundo se cala
Pra se fazer ouvir...
Quando alguém se cala
Pra me fazer ouvir.

Pode falar!
Palavras podem ferir
Mas, ainda assim,
É melhor ouvir tudo
Com todas as letras,
Cartas na mesa,
Fim de jogo.

Não sei o que tanto silêncio
Está querendo me dizer...
Só sei que silêncios
Abrem em mim
Feridas profundas
Nunca cicatrizadas...
Que poesia não cura.

Silêncios me matam
Pouco a pouco
A cada dia
E seria uma alegria
Ouvir uma voz
Que acabasse a agonia
Registrada nesses versos.

Silêncio querendo dizer
E eu sem saber lidar.
Só me resta esperar...

Em silêncio.

POEMA EM NEURA

Neurótica é só uma ótica um pouco errada...
Uma ótica inventada
que lhe coloca numa cilada
que você mesmo criou.

Num dia neura “mode on”
sinto que invento
coisa pra me preocupar...
aí entro em surto...
até parece que eu curto,
mas não...

não curto nem quero
ter essa ótica:
quero a sanidade
de quem enxerga certo
as coisas de verdade,
que sabe distinguir
o que é realidade,
e o que é ilusão.

Pra surtar, basta pouca coisa:
Silêncios me surtam...
E me assustam!!!
Então, alma, não cala!
Dá as caras!
Vê se fala alguma coisa!

Enquanto escrevo esse poema
E o silêncio se instala,
Fico aqui, ensandecida,
Desejando calma,
Mas querendo
Que tudo aconteça...
Talvez eu mereça...

É, talvez eu seja
Essa loucura,
Essa neurose absoluta,
Esse silêncio querendo dizer...

Esse silêncio querendo dizer...
O que esse silêncio quer me dizer?

Haja neura...

TER-QUE-POEMA

Tenho que escrever um poema.
Quer dizer, não tenho,
Mas quero.
Aí já mudei
Todo o poema de lugar...
E talvez o que escrevi abaixo
Nem encaixe mais...
Vai ser um poema
Desancorado no cais.

Porque quando a gente
TEM QUE escrever um poema
Ele deixa de ser poema
E passa a ser obrigação...
Perde a graça, o encanto,
Deixa de ser emoção...

TER QUE é uma regra
Que me aflige,
Porque sou eu mesma
Que me imponho
Pra eu mesma
Descumprir
E lamentar fracassos
Que eu mesma criei...

Eu não tenho que nada!
Eu posso querer ou não...
Eu posso escrever
Um poema desancorado,
Um poema rebelde,
Um poema ultrapassado...

E se meu poema está passado,
Ou se é presente ou é futuro,
Juro: ninguém tem nada com isso.

O exercício agora
É fugir do “tenho que”
Porque isso não tem nada a ver.
É! Eu sei...
Esse poema ficou desancorado...
Mas não tenho que ancorar no cais...


Você tem que?

POEMA IMPRECISO

O que será que eu preciso dizer?
O que será que eu preciso?
Será que eu preciso dizer?
Não já terei dito?

Será que eu preciso?
Será que eu digo?
Ou será que não?
Por que eu preciso?

Preciso dizer o que será?
Do que será que eu preciso?
Será que eu preciso?
Preciso ser?

Ser o quê?
O que será?
Por que será?
Serei ou não?

Preciso e não digo?
Ou não preciso mas falo?
Dizer ou calar?


Complicar.

POEMA-ESCAFANDRO

Costumo mergulhar
Em minhas próprias águas.
Costumo ir sem medo
Pro fundo de mim...
Mas às vezes
Só sei ir...
Fico tempos submersa...

Cada ser tem seus abismos
Cada mar, seus escuros...
O que me leva a crer
Que essa escuridão,
Oriunda dos meus próprios abismos,
É que me toma inteira.

Não tem boia que salve,
Ou corda que segure...
Logo eu, que não sei nadar,
Não tenho medo de mergulhar...

Ao me posicionar na beira do abismo,
Olho para baixo
E sinto toda a minha escuridão
Querendo me invadir.
O mergulho é iminente.
Meu mar me chama.

Mas não sigo em vão,
Agora tenho proteção:
Me agarro ao papel e à caneta,
Não temo mais ficar sem ar,
Com ele consigo respirar...
Encontrei talvez a boia,
A corda, a tabua de salvação...
Pra mergulhar em mim,
Nesse mar sem fim,
Confesso:
Só com muito verso.

Meu escafandro?
O poema.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

EULIVRO

Sabe quando
Alguém te olha por dentro,
Lá no fundo da sua alma,
E lê todas as suas entrelinhas?

Pois é... ele lê
Todas as minhas linhas,
Escritas ou não...
Parece que entende
O que está
Em cada entrelinha...
O que vai em cada olhar...

Ele me lê
Como se me olhasse.
Ele me olha
Como se estivesse me lendo...
Fico constrangida...
E tento fugir,
Me esquivo pra todo lado,
Faço cara de retrato,
De paisagem...
Tento distorcer minha imagem...

Ele me olha
Como quem lê
Um romance absurdo...
Embarca em qualquer viagem...

Quando ele me olha
E me lê,
Me enxerga inteira.
Fico sem eira nem beira....
Parece bobeira
Tentar se esconder...
Mas eu sigo tentando...
Arrisco essas linhas,
Disfarço as entrelinhas...
Mas sei que não escapo
Dessa leitura...

Nem quero...
O que eu quero
É ser sempre
Livro aberto
Aos olhos dele.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

POEMA ENCRAVADO

Ainda não sei bem
O porquê desse poema...
Mas ali,
Tendo a unha revirada,
Revirou alguma coisa
Por dentro.

Munida de tesoura, alicate
E outros instrumentos perfuro-cortantes,
Foi tirando unha e carne,
E foi espezinhando
Alguma dor...

E era um gosto mórbido em,
com aquelas ferramentas,
Ir mexendo
Onde ainda nem era ferida...
Mas a ferida estava lá...

Me vi ali, sentada,
Lidando com aquela situação:
Um ritual meio mórbido e sagrado
De limpar da unha
E da alma
O que incomoda...

De modo que, agora,
Ao olhar o pé com a unha feita,
Limpa, quase nova,
Ainda sinto a estranha sensação...
Os sentimentos ainda estão
À flor da pele...

Esse tenso ritual
De desencravar a unha,
Tirar o excesso de pele,
Deixa a alma fica mais leve,
Mesmo sem saber exatamente
O que se passou...

Futucou-se tanto
Alma e unha,
Que até o poema

Desencravou...