quarta-feira, 16 de agosto de 2017

POEMA REPARANDO

Para ouvir, clique aqui!

Reparei hoje
Quando ele me olhava.
Era um olhar
Que inaugurava
O que ele
Via em mim.
Um olhar fresco,
Aroma da manhã...
Mas o azul era só
Aqui dentro
E o sol,
Ah, o sol era
Aquele olhar!

Fiquei cheia
De importâncias...
Ele me olhou
Com olhos de reparar!
De ver tudo
Minuciosamente...

Não sei se era
O olhar dele
Que me inaugurava
Cheia de detalhes
Ou se era mesmo
A primeira vez
Que ele me via assim,
Modo reparando de olhar...

Seja como fosse,
Eu, que em normal diria
‘repare, não...’
Disse nada.
Fiquei só reparando
No jeito dele me reparar
e como brilhava no ver!

Ah, esse sol olhar...
Se for sonho,
Noite iluminada,
https://soundcloud.com/renata-ettinger/poema-reparando-2
Não preciso acordar.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

POEMA COMEÇANDO

Agora sim,
que o silêncio
impera,
posso começar
o dia
como eu gosto
e preciso:
com poesia!
Acordar é sempre
aquela agonia...
um barulho danado
por dentro
e por fora...

Agora sim,
que o silêncio
impera,
posso chegar
para o poema...
ou melhor,
ele pode
chegar em mim
sem pedir licença
sem fazer alarde
e acontecer
como deve ser,
como sempre
me acontece,
meio sem querer
uma coisa sem tema
que vai tomando
forma
embora não haja
forma alguma

(escrevendo o
forma – forma
fico órfã dos acentos
que caíram da norma
e me deixam solta
nas formas)

Agora sim,
que o silêncio
impera,
posso deixar
reinar soberana
a poesia.

Ah...
Agora sim!
bom dia! 

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

POEMA DRAMÁTICO

Para ouvir, clique aqui!

intensa, eu?
como assim?!
eu sei que sou
um pouco muito
em muitas coisas
e muito pouco
em poucas coisas...
eu sei que sou
meio “não caibo”
em qualquer lugar,
que pra me caber
eu tenho que
reinventar
o espaço...

acho que eu sei...
não tenho medida,
tenho desmedida,
febre,
excesso de ser,
e não consigo
conter:
extrapolo
o avesso
no verso,
a  alma
na cama
e o resto
eu disfarço:
contenho
o riso
e faço
a dama...

intensa, eu?!
que nada...
puro
drama... 

POEMA RETICENTE

Saudade, ele diz.
Eu digo sempre:
Saudades,
No plural.
Não consigo ser
Singular
Quando se trata
De saudade.
Uso, no mínimo,
Advérbio de intensidade,
Tipo: Muita saudade...
E quase sempre
Acompanhada
De reticências,
Porque tem sempre
Algo que ficou ali,
Reticente,
Sem ser dito,
Contido ali
Naqueles três pontos
Infinitos...

Ah, se eu fosse
Enumerar
Tudo que cabe
Dentro da minha
Saudade
Não ia caber
Em verso ou frase...
E como saudade
Não tem coletivo
E o poema
É um só,
Apelo pro plural:
Saudades
Com reticências
No final
... 

POEMA DISFARÇADO

Encarei o espelho,
Sorrindo e tentando
Achar alguma graça
No branco que insiste
Em aparecer nos cabelos.

É o tempo que passa
E deixa a sua marca.

Tentei relaxar...
O tempo já deixa
Sua marca em mim
E não é apenas
Nos cabelos.
Já não tenho pressa
De decisões,
Mas sede de viver
Intensamente
E de verdade.

Deixa...
É o tempo...
Ele faz a sua mágica...
Vira as páginas,
Pontua as frases...

Aceito que o tempo passe
E que sua mágica me aconteça
E me modifique
E me vire as páginas
E me pontue as frases.

Mas teimo em não aceitar
O seu passar nos cabelos.
E, pinça na mão,
De um em um,
Vou roubando-lhe
os brancos rastros...
Apago as marcas...
Depois acho graça
Da minha teimosia...

É, quem diria que
Disfarçar o tempo
Ia dar poesia... 

terça-feira, 8 de agosto de 2017

DESDOBRAMENTOS

Para ouvir, clique aqui!

Eu sei,
Não sou a melhor pessoa
Para conter palavras.
Até contenho...
Mas aí são muitos
Desdobramentos...

O que ia ser dito
Fica remoendo por dentro
Pulsando,
Doendo
Até virar uma angústia
Que não tem tamanho,
Que termina em lágrimas
Que não choro.

E choro engolido,
esse choro
que não tem lugar,
fica o tempo todo
beirando no olho
e qualquer ensaio
de dizer palavra,
ele ameaça querer cair.

Mas aí respiro
E engulo de novo o choro...
quantas vezes forem necessárias!

Palavras não ditas
Se desdobram
Em lágrimas
Que molham tudo
Por dentro,
Encharcam a alma,
Que começa a vazar
Por todos os poros...

Até que, finalmente,
A alma explode:
Ahhhhh.!!!
Bem dita palavra
Que o choro
Dissolve.