segunda-feira, 29 de maio de 2017

POEMA SEM ESCAPE

A poesia,
quando ataca,
deixa você
sem saber:
não é,
nem deixa
de ser/estar...
chega de vez
e não quer dialogar,
quer acontecer...

A poesia,
quando quer ser,
usa qualquer argumento,
na educação, debate,
na falta dela, discute,
no poema, discursa,
e segue o curso do rio,
mesmo sem saber nadar...
quer chegar no mar,
quer desembocar...

A poesia,
pra acontecer,
usa você,
sua voz,
seu tempo,
seu papel...
não adianta
resistir,
nem fingir
de louco,
de morto...
ela lhe alcança
onde quer
que você vá,
seja lá onde for
que você se esconda.

Poesia é uma onda...
ela, às vezes, ainda
nem sabe o que vai dizer,
mas se você vacilar
frente à pagina em branco,
ela aparece
pra lhe dar um tranco,
nem que seja
pra você
pegar na marra
e escrever...

Pois é, poesia...

não consigo escapar
das suas garras...

POEMA SEM SABER

o que fazer
quando não se consegue respirar,
quando falta ar,
quando o que era pra ser
fica no ar, ressoando,
sem se concretizar?

o que fazer
quando a faca não corta,
o café não acorda,
o açúcar não adoça
e o sal não pega?

o que fazer
quando o tiro não mata
e o sangue não estanca
e a ferida não cicatriza?

o que fazer
quando o destino prega peça
e a chave parece certa
e a porta parece certa
mas alguma coisa está errada?

o que fazer
quando você mesmo
se coloca na cilada?

o que fazer
quando a alma, indisposta,
só lhe faz perguntas
sem respostas?

quinta-feira, 25 de maio de 2017

POEMA AGONIADO

Ele me diz
"Uma verdade: desejo.
Uma vontade: nosso beijo".
E eu tentando manter a calma
e aconselhando:
"calma...
amanhã logo chega...
e a gente mata essa vontade
e consuma essa verdade..."

Como se fosse fácil
essa espera...
Uma espera que mata
de tanta agonia...

Quem olha,
vê só o lado de fora...
E por fora, você sabe,
fico chique: leio poesia,
tomo um café...
Quem olha,
olha com olhos de não ver...
E eu disfarço muito bem...

Mas por dentro,
só você sabe
(que me lê e é o senhor
dessa disritmia)...
por dentro é só agonia...
e não há nada que passe
essa ansiedade...
por dentro,
sigo ardendo,
mas ninguém desconfia.

Como a vontade não passa
e o amanhã não chega
pra gente curtir nosso beijo
e matar o desejo,
vivo essa dicotomia...
Alguma dúvida
de que isso ia acabar
em poesia?!

POEMA INESPERADO

meu poema vive
ganhando formas:
já foi aflito,
frito,
aceso,
concentrado,
faminto,
bem resolvido,
endereçado,
e ainda vai ser
tudo o que puder...
até esse poema,
inesperado,
que não sabia
que ia ser poema,
que não tinha
lema nem leme,
que tava à deriva
nesse mar de mim,
agora acontece
todo cheio de ciência,
todo prosa... se achando
no meio da minha poesia...
Ah... meu verso
não tem geografia,
não tem coordenadas
para se achar,
só pra se perder...
e no meu verso
eu me perco
e de tanto me perder
me acho...
fico toda prosa
só porque desato
a escrever uns versos
achando que é poesia...
Campos diria:
"se calhar é...
e porque não há de ser?"...
Recorro ao mestre,
tiro ele do contexto
e, ousada que sou,
meto no meu texto
os versos que ele pensou.
E esse poema,
que não tinha
leme nem lema,
parece que se encontrou.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

POEMA QUE NÃO PASSOU

Hoje é segunda.
E podia ser mais um
dia comum...
Mas não é.

Hoje é segunda.
E eu não amanheci
em seus braços,
como eu gostaria,
mas dormi com o gosto
do teu beijo
em minha boca...
e enquanto eu não lhe disser isso,
que ainda sinto o seu sabor,
o dia não vai começar
e eu não vou render
como deveria.

Hoje é segunda.
E dá agonia só de pensar
que ainda demora uma semana
pra gente se ver,
pra fazer valer
o que nossos corpos
precisam dizer.

Hoje é segunda
e eu mal comecei
o que tinha programado...
esse ontem ficou marcado...
meu corpo sabe as marcas
que você deixou,
embora não seja possível
percebe-las a olho nu...

Hoje é segunda
e não é mais um
dia comum...
em dias comuns não há
tanto o que desejar,
nem tanto pra dizer
do que não passou...

Eu sei, já é segunda...
Mas a noite de domingo
ainda não passou:
é madrugada anunciada
que segue acordada
no meu corpo-casa
ainda em brasa.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

POEMACESO

a poesia acorda pulsando...
sinal de que ainda
há o que fazer,
o que dizer,
que a poesia ainda
pode inspirar...
e conspirar...
ainda que não pareça,
ainda que transpire delicadeza
ou que subverta
métrica e rima,
é feito casa velha,
nem sempre parece
um bom abrigo,
e embora caindo aos pedaços,
é sempre um lugar
para revisitar,
e sempre é possível
demolir e reconstruir...
desconstrói verdades,
escreve outra realidade
e não teme os abismos,
atravessa-os
sem medo de se perder
em sua escuridão...
é a vela acesa
que incendeia
o coração...
Poesia?

Revolução.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

POEMA CONFUSO

o rosto amanhece sem calma.
a alma está atordoada.
a noite insiste em não passar:
marca os olhos,
faz bater acelerado o coração,
fora do compasso...
tento amanhecer:
lavo o rosto,
tento esconder a noite
que restou sobre os olhos,
dar um corretivo nela.
mas choro.
o coração acelerado
eu não consigo conter.
tento respirar,
tento entender o que se passou,
tento lidar com essa noite
que restou em mim
e não sei o que fazer.
ainda estou atordoada...
como faço pra amanhecer
e pra esse dia de sol e céu azul
me alcançar?
se eu sair, é capaz
de alguém perceber
que não amanheci...
se alguém me perguntar
o porquê da noite
o que eu vou dizer?
melhor me recolher...
quando nem corretivo esconde
a noite da alma nos olhos
não tem o que fazer:
é viver o escuro que resta,
esperar nascer o dia
e deixar a confusão
virar poesia.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

FOTOPOEMA

procurei
um retrato nosso
mas não encontrei
uma só foto.

só encontrei versos...
meus pra você
e seus pra mim...

mas se retrato
é aquela fração de segundos
em que nossa alma
é capturada
e aquela imagem
é eternizada,
achei, então, nossas fotos,
ou melhor, os poemas,
ou porque não dizer
fotopoemas?!

Isso de "uma imagem
vale mais que mil palavras"
é pra quem não tem
palavras pra fazer
a imagem acontecer.

A gente tem.
Fazer o quê?!

quarta-feira, 3 de maio de 2017

ESPELHAR-SE

Cada um sabe
A sua dinâmica
E até que ponto
Aguenta olhar-se
Frente a um espelho
Que não necessariamente
Reflete.
Delete os preconceitos.
Abra sua mente.
Olhar-se nesse espelho
É caminhar
Para a reflexão
E refletir
Um outro (novo)
Olhar sobre si,
Sem dó
Nem mimimi.
Lá nesse reflexo
O Sol que queima
É você.
E fato: você se queima
De você mesmo
E muda sem perceber:
Quando vê,
Passou filtro solar.
Basta encarar
sua própria imagem.
Basta querer
Se ver de verdade.
Às vezes demora
Pra se enxergar,
Outras vezes,
É só começar
Que você passa
A se ver
E a renascer
De você mesmo.
Dói.
Mas a gente cresce.
Tudo isso acontece
Quando você
Se olha nesse espelho
Que não necessariamente

Reflete.

terça-feira, 2 de maio de 2017

PURA (INS)PIRAÇÃO

Onde a inspiração começa?
Pra onde ela nos leva?
Será que ela termina?

Escrevo as perguntas
Mas não as sei responder.
Sigo com a inspiração
Nessa viagem inesperada,
Louca revoada de palavras
E não espero chegar
Em nenhum lugar.

Apenas sigo o verso
Mantendo o ritmo,
E os sentimentos
Vou deixando à flor
Da pele, do dedos, do papel...

Minha poesia
Me leva pra onde ela quiser
Com a emoção que vier,
Do jeito que der
E for pra ser...

Com meu verso
Não tenho segredos:
Tudo pode ser rima,
Tudo vira enredo.
Não tenho medo.

Isso de ser poeta
Só pode ser sina,
Porque ninguém ensina
Ou dá o caminho das pedras,
Ou melhor, das letras.

Pode ser que você descubra
Onde sua inspiração começa
Ou onde ela termina.
Quanto a mim,
A cada poema
Apenas me rendo
E deixo que ela me guie
Seja qual for caminho...
Quem sabe ainda descubro

O seu ninho?!

(DES)CONTROLE

Eu descontrolo
Meus pensamentos.
Isso: descontrolar.
Esse é o verbo.
E está certo
Se for reparar.
Olhe... eu juro!
Eu tento me controlar...
Mas quando vejo,
Você já está por lá,
Faz morada neles.

Eu descontrolo
Meus pensamentos
Porque você
Me tira do eixo,
E eu, enquadrada que sou,
Tento me regular.

Eu tento criar regras,
Estabelecer normas,
Dizer o que eu posso
E não posso pensar...

Mas no meio da regra,
Quando eu vejo,
Já quero seu beijo...

Como pensar em normas
Se o que eu desejo
É sua mão
passeando no meu corpo?

Como definir o que posso
Ou não posso pensar
Se escolhi o vestido
Pensando em você
Tirando ele de mim?

Não consigo!
E sigo pensando
Todas as atrocidades,
Todas as minhas vontades
E desejos de você...

Não... não faço por querer...
Faço querendo
Que a gente aconteça
Com toda a grandeza,
Como é pra ser...
Que anoiteça, amanheça...
E eu ainda esteja
Em seus braços...

Não tem controle que mude
Meu pensamento de canal.
E como eu não controlo,
Não me descontrolo.
Então deixo acontecer
Mais um poema
Pensando em você.