terça-feira, 29 de setembro de 2015

OUTRO OLHAR

Meu olho me olha...
E de lá do lugar
De onde ele me olha
Ele fala:

“Relaxa!
Todo mundo sabe
Que você
Não está cansada.
Essa olheira
Traz intensidade...
E é denso o seu olhar,
Então ela cabe.
E cabe no seu olhar
Todo sentimento.
Inclusive, parece
Que todo sentimento
No seu olhar
É mais sentido.
Não me culpe
Por eu ser assim
Delicado,
Ver tudo,
Sentir tudo,
E tudo mostrar.
Das flores, gosto de ver,
Sentir o cheiro...
Não chegue perto de pólen,
Pra eu não me irritar,
Nem te irritar...
Vou coçar, mas tenha paciência:
Guarde a mão!
Não me digas não!
Diga que sabe
Que nos seus olhos
Cabem todo céu,
Todo mar...
Aqui, do lugar
Onde estou a te olhar,
Eu te olho,
E vejo um olhar
Candenciado,
Cheio de ritmo,
De lág-rima.
Olha pra mim
Com mais amor,
Por favor”!.

E eu, de cá
De onde fui olhada,
Inspiro e expiro
Pra me acalmar,
E guardo as minhas mãos
No ar.

POSSO-POEMA

Talvez o pior de mim
Seja essa minha
Insegurança.
Parece
Outra pessoa
Que me habita
E que não confia em mim,
No que eu posso oferecer.
Eu posso sempre mais
Do que eu acredito
E talvez esse seja
Meu maior trunfo,
E o pior risco
Que eu tenho a correr
É acreditar em mim.
Pôr a mão no fogo
Por mim
É o que eu mais
Deveria fazer,
Mas travo
E sempre espero
Me queimar.
Que, a partir de agora,
Eu arrisque,
Petisque,
Me queime
Se for preciso.
Jogar na fogueira
Essa insegurança.
Vencer o jogo
Da ansiedade
Com verdade,
Integridade
E alegria.
Porque eu posso
Sempre mais.
Eu posso
Sempre mais
Um poema.
Eu posso.
Prestou atenção
No sujeito da frase?
Sim.
Eu.

DUPLA REPOSTA

O universo responde
Duas vezes,
Em duas conversas distintas,
A resposta que eu queria ter.
A resposta que eu
Sabia que viria.
A resposta
Que eu mesma
Respondi pra mim.
Era um sim
Cheio de significado.
Era um sim de amor,
De cuidado,
De que todo amor investido
Seria retribuído,
E melhor, comemorado.
Eles virão!
E trarão a alegria
Que agora vira poesia
Sem querer.
Foi só mentalizar
Pro universo responder:
“Vamos sim, Rê”
Numa conversa
Que nem era comigo!
Haja força do pensamento...
Haja sentimento...
E que onde houver
Tanta felicidade
Que meu verso chegue
Sem causar alarde,
Mas que carregue
Em cada palavra
Essa verdade
Que trago
Agora.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

PASSA-POEMA

Não sei o que
Se passa lá fora,         
Se é que se passa
Alguma coisa.
Aqui dentro
Tem outro relógio
E as coisas passam
Sem necessariamente passar.
A cada acontecimento
Meu feng shui de dentro
Acomoda cada coisa
Em outro lugar.

Passar
pode ser sentir
 de outra maneira.
Passar
Parece brincadeira
Mas é só seguir adiante
Pra ver que tem sentido
Cada novo lugar
Que cada velha coisa
Agora ocupa.

Cada coisa
É o que é.
Cada coisa
É o que sou.
Cada coisa
É o que escrevo.
E quando escrevo
É quando (re)organizo
O pensamento.

Mas cada pensamento
É o que é.
Cada sentimento
É o que sou.
Cada momento
É o que eu escrevo.

Repasso todo o texto :
Cada velha coisa
Em seu novo lugar...
Isso é passar.

E passo para um próximo poema.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

JÁ ERA HORA

Acho que esses
Tantos corações
Que me surgem
No caderno
É só amor por mim
Que agora flui.
Até o amor parece fluido
Nesse lugar que estou,
Nessa escada
Que estou a subir.
Ah! Nada como 
A aceitação!
Nada como essa paz
Que reina dentro
E que me traz 
O verso simples,
Que antes só vinha
Em extrema agonia. 
Ah! Já era hora
Da poesia voltar 
Para os cadernos.
Já era hora de
Eu me aceitar 
Poesia.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

POEMACEITAÇÃO

Impressionante
Como aceitar a escada
Com todos os seus degraus
Fez a diferença.
As noites não são mais
Tão intermináveis
E os dias chegam
Na hora certa,
E eu me encontro
Quase sempre
Pronta para esses
Amanhecimentos.
As ideias aparecem
Claras, naturais,
Sem sofrimento.
Claro que às vezes
Tem algum sofrer
Até elas se concretizarem,
Mas até esse tempo
De concretizar coisas
Tem doído menos.
“Mas o que sinto, escrevo.
Cumpro a sina”,
Igual a Adélia.
E, como diz a sina
Inscrita em meu nome,
Vou conseguindo
(Mais uma vez)
Me reinventar e
Renascer.
Tudo é crescimento.
E agora já acredito
Que minha noite de dentro
Não é em vão.
Ela me faz ser 
Quem eu sou
E gosto de ser.
E me permite
Seguir o caminho,
Sempre que possível,
Renascendo.
                                       

terça-feira, 15 de setembro de 2015

EU E O POEMA

A noite passa lenta,
E eu fico aqui,
Nessa noite nublada
E de chuva do lado de fora
Contemplando lua e estrelas
Do lado de dentro.
Minha escada
A céu aberto
Possibilita
Vislumbrar os astros,
Mesmo quando
Do lado de fora
Eles se escondem.
Permito-me olhar com calma
E alma pra mim
E o que vejo nem é tão ruim...
Ah... eu e minha mania
De me depreciar!
Voltando:
Permito-me olhar com calma
E Alma pra mim
E o que vejo, eu gosto sim!

Viu?
Conseguiu rimar
E nem precisou
Fazer pouco caso de você.

Oxe! Meu poema
Está falando comigo?
Meus Deus! Que perigo!
Imagine...
Um poema respondão!
Se essa moda pega...
Meu poema
me tirou do tema!
Eu, que queria
Só olhar pra dentro,
Fiquei sem centro.
Não sei mais se fui eu,
Ou o poema, se foi o tema,
Ou meu dentro,
Mas alguém em mim respondeu
No meio do poema.
E o que ia ser desse poema?
Vou ter que recomeçar
Em outra noite lenta e
Nublada por fora
Pra descobrir.


quarta-feira, 9 de setembro de 2015

PARADEIRO

Agora cada coisa
Parece em seu lugar,
Inclusive eu
Aqui na escada.
A rotina volta
Pra minha rotina
E eu agradeço
Por tudo estar
Certo e bom,
Sabendo que
Ainda pode melhorar:
Esbarrar nas quinas
Tem que deixar de ser rotina.
Tenho que estar atenta
E ser menos lenta
Pra cuidar de mim,
Mais esperta
Pra coisas certas.
Tenho que estar mais perto
Da minha poesia,
Arrumar tempo
Nessa agonia
Que outro dia
Era um paradeiro só.
Para quem estava
Sem paradeiro,
Num meio de uma escada
A céu aberto,
Já tenho até
Desembocadura.
Realmente,
Cada coisa em seu lugar.
Agora é caminhar.
Não preciso correr,
É só ir em frente
E ter em mente
Onde quero chegar.
Onde eu quero chegar?
Vixe! Isso é tema
Pra outro poema.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

SÓ ESCADA

Aqui a escada,
Que já virou estrada,
Mar, caminho e caminhar,
Volta a ser só escada.
Aprendo a cada dia
A valorizar conquistas diárias,
A diferenciar o extraordinário
Se esse aparece no meu dia.
Mas viver o ordinário
É que é a chave,
O grande segredo.
Aceitar os dias de chuva,
Ou até os dias de pura noite,
É acreditar
Que o céu aberto virá
E que vai amanhecer.
E em cada amanhecer
Eu renasço,
E no poema do dia-a-dia
Descubro que a escada,
Igual à poesia,
Pode ser o que eu quiser.
Por hoje, a escada
É só escada mesmo.
Graças a Deus!
E subo mais um degrau.

DESEMBOCADURA 2

Minha palavra virou água.
Por isso, flui melhor em mim.

Talvez seja rio. Talvez mar.
Talvez lágrima, cachoeira.

Poesia-nascente.
Matar a sede,
Beber a água na fonte,
E no rio, boiar
Até eu desaguar
No mar de mim.
Desembocadura.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

DESEMBOCADURA


Poesia pode ser
meio ou fim,
mas também
recomeço, redescobertas.
Poesia pode ser motivo
ou pode ser sem motivo.
Poesia pode ser chão,
céu, mar azul,
o horizonte.
Pode ser escada, estrada,
Rota para navegar.
O que você inventar
ela pode ser.
Pode ser e É
O que você quiser:
Principalmente,
Caminho e caminhar,
RespirAR!

Pra mim, ela é tudo:
Fonte de tudo
E onde tudo
Desemboca.
A poesia, quando
Faz em mim sua morada,
Faz de mim
Melhor lugar pra se viver.

NAVEGANDO



Ainda estou aqui,
No meio da escada,
Mas acho que subi
Uns degraus.
O meio, escuro,
Quase noite,
Vai clareando,
Amanhecendo...
E eu vou conseguindo
Aproveitar
O caminho.
Minha nuvem própria
(Uma dessas nuvens
De tempestades individuais:
Cravejada de
Raios e trovões)
Vai passando.
E meu céu aberto,
Agora cravejado
Apenas de estrelas,
Vai me dando
Novas coordenadas.
Na minha escada-mapa
Aparecem novas rotas,
Redescobertas,
Reinventadas.
O que parecia
Noite escura,
Agora amanhece
Em mim.
Igual a problema
Que vira poema,
Igual a céu
Que vira chão,
Escada
Que vira mar.
Degrau,
Rota de navegação.