segunda-feira, 31 de julho de 2017

POEMA(DES)ESPERAMOR

Ouça aqui!

Do amor,
Desse amor,
Eu sei,
Não espero nada.

Do amor,
Desse amor,
Eu sei,
Não planejei.

Amor,
Esse amor
Me pegou
De surpresa.

Por amor,
Esse amor,
Brigo,
Insisto,
Não desisto.
Faço o que for
Possível.

O impossível
Não cabe
No amor,
Nesse amor
Que nada espera.

Mas ainda espero, amor. 

POEMA EM PAUTA

Risquei toda a pauta do dia
Adiei os planos,
Foquei na poesia...
Gastei tempo e verso
Nessa agonia...

Mudei a pauta
Pro assunto de sempre:
A gente sempre está em pauta...
No entanto, não há verso gasto,
Nem tempo perdido.
Ao contrário,
Tempo ganho e versos vastos...

Penso, penso, penso...
Fico tentando entender
Mas não consigo
Parar de pensar....
Penso nos beijos loucos
Que eu quero te dar...
Penso que foi por pouco,
Muito pouco,
Que todos esses beijos
Que eu guardo pra você
Não ficaram no ar...

A pauta me chama
Mas só penso nisto:
nós. E insisto:
Se não fosse pra ser
A gente não ia se encontrar...
Vamos pagar pra ver
Onde vai dar...
E até se não der em nada,
Já deu em algum lugar.

Ouço o grito da pauta,
Mas só insisto em poesia,
Em livro,
Em sua companhia,
Em tudo que pode
Deixar a pauta adiada
Na maior agonia.
Bem que a pauta do dia
Podia ser só
De matéria pra poesia... 

domingo, 30 de julho de 2017

POEMA IMPERFEITO

um pouco
do que hoje sou
são as olheiras
sempre a mostra
e as unhas
sempre por fazer.
estado
de imperfeição absoluta
que quem simplesmente olha
pode ver.
uma imperfeição
que deixa calma a alma
e a alma aflora
em tudo que faço,
por isso, quem me olha
vê meus rastros
em mim.
já não me exijo
mais do que isso:
imperfeição.
é só disso que preciso
pra ser quem sou:
me aceitar imperfeita,
me abraçar inteira,
aceitar o que,
teoricamente,
não devia,
tipo começar frases
com pronome oblíquo...
me aceitar
com a transgressão da língua
em toda a sua extensão.
quem simplesmente olha
pode ver:
a roupa pode até estar
um pouco machucada,
a unha por fazer,
as olheiras sem cobrir,
mas a alma,
imperfeita,
está perfeitamente
inteira. 

sexta-feira, 28 de julho de 2017

POEMA PARA UM CRIADO MUDO


Abri uma gaveta
E procurei nela 
Texto para o móvel
que não falava,
Só que da gaveta
Não saia nada.
Insisti. Abri outras,
As melhores gavetas...
Não havia nada ainda
Que me deixe satisfeita.

Comecei a rabiscar a página,
A deixar nela o retrato
da agonia que é
procurar palavra
De fora pra dentro...

Então, já de dentro,
Fui forçando a barra,
Empurrei com força
Gavetas que estavam fechadas,
Até algumas caírem no chão.

As palavras se espalharam pelo quarto...
Era palavra por todo lado:
tapete, cama, quadro,
mesa, janela, armário,
chão, porta-retratos,
em todos os cantos...
E era palavra de todo jeito:
em cima, embaixo,
pendurada,
aberta, fechada,
amontoada,
cheirando a guardada...

catei o que pude,
mas tudo estava
pelo avesso...
Vesti o verso
Do jeito que tava...
Com as palavras gritando...
saltando, de tão nervosas,
do dedo pro papel...
Olhei na voz
o catado das palavras
E mirei de novo
o móvel que silenciava...
Ele tinha gaveta.

Mudei o contexto:
Abri a gaveta
E guardei o texto.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

POEMA ESTAMPA

Para ouvir, clique aqui!

Estampar-me.
Deixar em mim
A minha própria
Marca,
Transparecer
Quem sou,
Fui,
Serei...
Transparecer:
Ficar transparente.
Mostrar o interior:
Todas as vísceras,
As entranhas...
Mostrar-me
Estranha
Como sou,
Com todas as
Complicações
Que derivam
De mim,
E com todas
As derivações
Que faço
Do que sinto
E que, por dentro,
Sangram...
E se for transparecer
Meu sangue,
Vai ver que nele
Circulam palavras
E que sinto tudo
Ao pé da letra
Porque é de
Letra o sangue,
Por isso que
Sangro em verso.

Se eu for
Estampar-me
Aparecei vermelha,
Sangrando,
De pés no chão
E sapatos na mão.

Estampei
Em vermelho
Esse poema
Porque dentro
Sou cor.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

POEMA QUE PEGOU DESVIO

Dispo-me e
Despeço-me do que
Outrora fui.
Já não dou conta
De ser.
Não ouço voz
Que possa me confortar
E afirmar com clareza
Caminhos possíveis,
Nem a minha.
Acho que preciso
De desvios,
De andar por
Linhas sinuosas,
Curvar-me
Até doer as costas...
Agora só me dói
A alma reta
Nessa reta sem fim
Por onde sigo.
Não me saber,
Correr perigo...
Não sei se consigo.
Acho que preciso
Nadar na corrente
Incerteza
Contra-corrente...
Sobrevivente
De afogar-me
Nos meus descaminhos...

O poema pegou
Desvio
E não sei mais
Voltar.
Só sei que
Já não dou mais conta
De ser.
E, por estar despida
De mim,
Despeço-me.

terça-feira, 25 de julho de 2017

POEMA BRANCO

Para ouvir, clique aqui!

Agora, todo dia
Escrevo um poema
Antes de, de fato,
O meu dia começar.
Agora, todo dia
É essa ladainha
De não saber
O que vai rolar
Nas próximas linhas
Da página em branco.
Parece que dá
Um branco criativo
E olho o cursor piscando
(ou a caneta sobre o papel)
E fico pensando...

Quando desisto
De ficar remoendo
Essa agonia branca,
Escrevo o que passa
No pensamento...
E, às vezes, é genial
O que acontece...
Outras vezes,
Não é nada,
Mas a gente segue
Tentando e sofrendo
Com o branco das ideias,
Sem ter nenhuma
Ideia genial...
Só pra manter,
Do verso, o hábito.

Mas habito esse branco.
E, vou tirando da página
Essa cor 
Que inunda e
Petrifica. 

Saio do modo estátua.
Sujo a página
Com a primeira palavra
Que me ocorrer,
E vou deixando a sujeira
Limpar o branco...

Depois levanto,
Dou um sacode na poesia
E deixo pra trás
A poeira dos dias.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

POEMA PELE

Dispo-me
De todas as máscaras,
medos,
manias,
modos,
delírios de felicidade,
birras,
vontades,
angústia de não saber quem sou
ou de caber onde não estou,
e do que restou...
Dispo
Pra vestir-me verso...

Visto o verso
No lugar da pele...
A alma ganha lonjuras
E o olhar, proximidades.

Peleverso: intimidade.

POEMA COLUNÁVEL

Para ouvir, clique aqui.

As costas doem...
Acho que dei
Um jeito na coluna...
E acho que me lembro
De quando e como
Aconteceu...
E não reclamo...
E fico querendo
Tudo de novo...
Poderia, inclusive,
Passar o poema
Inteiro repetindo:
As costas doem...
Acho que dei um jeito...
Você sabe,
Eu sou do repeat...
Fico assim,
Girando em círculos,
Repassando mentalmente
Todos os acontecimentos,
O exato momento,
Você em mim.
E porque mentalmente
Repasso tudo,
É que o poema
Fica livre da repetição...
As costas doem
Porque o corpo
Ainda se lembra...
E enquanto eu
Lembrar dessa noite,
É nela que vou
Sempre me esquecer
Pra poder
Lembrar
Você.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

POEMA PÓLVORA

Fico o tempo todo
procurando tema
Pra poema...
Pareço um cão
Farejando uma pista...
Olfato apurado,
Olhos e ouvidos atentos...
Tateio os rastros
Do que poderia ser
ou ter sido
Um poema...

Fechar o corpo
E farejar as pistas
Não adianta...
Não insista...
Poesia só vem
quando quer...
Se dela você espera
Alguma coisa,
desista...

Não tem roteiro...
Tem que estar
No lugar certo,
Na hora certa,
De peito aberto
Pra oferta
Que a poesia
Vai fazer...

Poesia é
bala perdida
Que acerta o alvo
em cheio...
E do alvo,
sai o poema...
Uma carta marcada ...
Um tiro certeiro.

É isso!
É de pólvora
O cheiro que sinto
Quando farejo

Poemas...

quinta-feira, 20 de julho de 2017

POEMA TONTO

Penso tanto em você.
Penso tanto...
Talvez
Eu não devesse
Pensar tanto
No tanto de coisas
Que eu penso...

Entretanto,
Você é tanto
Que fico tonta
De tanto pensar...

No entanto,
O seu beijo é tanto
Que penso tonta
E fico tanto.

Tanto quanto
Penso em nós dois...
Penso tanto
no quanto somos
Tantos
Quando estamos
Juntos
Que fico
Besta.